Graças à essa propaganda, milhares de jovens
brasileiros olharam com desdém para seus
consoles Master System, Nes, Atari e todos aqueles outros que existiam nos lares desse país.
Essa foi a primeira propaganda do Mega Drive,
veiculada na revista Veja, no dia 12 de dezembro de 1990, no finalzinho dos anos 1980.
Lembro-me como se fosse hoje. Eu e parte da turma estávamos na casa de um amigo, escutando alguns discos em vinil e jogando Master System quando o pai dele chega do trabalho, nos cumprimenta apressado e joga uma revista Veja no sofá, bem ao meu lado.
Enquanto esperava meu comparsa passar uma fase do Out Run para Master, eu aproveitei para folhear a revista que, como sempre, cheia de assuntos sem graça para um adolescente cuja maior diversão e aventura era passar o dia nos fliperamas esfumaçados e cheios de elementos suspeitos.
Altered Beast. As cenas em sequência da tranformação. O design radical do console.

Confesso que desse instante em diante em que vi a propaganda, passei a olhar com desdém para meu companheiro de aventuras Master System.
Eu e meus amigos continuamos a jogar nossos cartuchos, mas minha mente estava em outro plano, o plano colorido dos 16 bits que eu ainda iria demorar alguns meses para conhecer.
Já não dava para jogar Altered Beast de Master sabendo que havia uma versão praticamente idêntica ao arcade para um videogame caseiro.
Voltei para minha casa e comecei tramar uma maneira de ganhar um Mega Drive. A tática que usei foi uma espécie de insistência sutil.
Passei a falar sobre o console para minha mãe, sobre toda sua tecnologia (ela me olhava com cara de árvore quando falava em bits). O tempo seguia seu rumo, as notas da escola sempre medianas (culpa dos fliperamas) e o sonho de possuir um console de 16 bits aumentando a cada pensamento.
O Ano de 1991 chegara e logo em janeiro o Rock in Rio II agitando com A-Ha, Guns N' Roses, Faith No More, Santana, entre tantos outros e nada de Mega Drive rodando na minha Philco-Hitachi de 21 polegadas. Só Master e Phantom, com seus gráficos que mais pareciam (depois da revista Veja) fotografias do século 19. Não via a hora de colocá-los para fazer companhia para o Atari, que já estava morando na fria e escura última gaveta do meu armário.
Nessa época dividíamos o tempo ocioso entre os fliperamas do centro (White Ball e Le Coq, os melhores da cidade) e as locadoras. Éramos ratos delas, os donos não nos suportavam, porque passávamos a tarde nelas e raramente alugávamos algo nos dias de semana.
Quando tínhamos algum dinheiro, jogávamos algum jogo nos consoles que havia para alugar por tempo, mas em geral preferíamos gastar no fliper. O status era outro.
Os meses foram se arrastando, eu continuava a sonhar vendo o Mega Drive apenas nas locadoras quando, no meio do ano...
Já tinha me impressionado com alguns jogos de arcade, com o Super Mario 3, que literalmente me fez mandar o Master System para a gaveta-calabouço por uns tempos, mas nada se comparou quando vi, diante dos meus olhos, o Sonic, ligado num Mega Drive na locadora perto de minha casa.

Havia chegado a hora de ter uma conversa séria com minha mãe: Ou ela comprava um console pra mim, ou ela comprava um console pra mim.
A negociação não chegou a ser tensa, mas havia condições a cumprir: O Master System que me acompanhara por tempos deveria ser dado para minha irmã mais nova.

Isso não era nada, daria até o Phantom, o Atari, os bonecos do Thundercats ou qualquer outra posse que tivesse, só para ter o prazer de ver aquele porco espinho correndo e dando loopings no meu televisor. Felizmente, só foi preciso dar o 8 bits da Sega e os poucos cartuchos que tinha para minha irmã mais nova para poder finalmente realizar o sonho tão aguardado
.
Acordo firmado, videogame entregue, troca de algumas conveniências, recebo o dinheiro e, num piscar de olhos, me vejo subindo a ladeira da minha rua numa velocidade que faria inveja ao do protagonista do jogo que me hipnotizou.
Não me lembro do que se sucedeu depois. Apenas posso dizer que voltei com um Mega Drive japonês e um Sonic alugado. O que posso dizer depois disso é a lembrança de estar dizendo seriamente à minha mãe que aquele dia não haveria novela. A televisão seria minha e não haveria acordo nenhum.
Daí pra frente foi uma longa história (que dura até hoje!) de verdadeira paixão por esse que foi o console que marcou uma época.